O eixo intestino-coração-cérebro é um campo de investigação interdisciplinar que investiga a interconexão destes três sistemas de órgãos vitais. A saúde de um destes órgãos tem um impacto significativo nos outros, e o mecanismo subjacente a esta interação é uma interação complexa de sinais químicos, neurais e imunológicos. A ligação mostra claramente que o corpo é um todo integrado em que todas as partes estão estreitamente interligadas.
O intestino é muitas vezes referido como o "segundo cérebro", uma vez que tem o seu próprio sistema nervoso, o sistema nervoso entérico (SNE). Esta rede compreende cerca de 100 milhões de neurónios - mais do que a medula espinal - e pode funcionar independentemente do cérebro. Além disso, existe o microbioma intestinal, uma enorme comunidade de microrganismos que vivem no trato digestivo.
O microbioma não é apenas responsável pela digestão, mas é também um ator-chave na regulação do sistema imunitário, na produção de neurotransmissores e no controlo da inflamação. Milhares de milhões de microrganismos, incluindo bactérias, fungos e vírus, formam um ecossistema que influencia todo o corpo.
O nervo vago desempenha um papel central na comunicação entre o intestino e o cérebro. Este décimo nervo craniano estende-se desde o tronco cerebral até à cavidade abdominal e transmite continuamente sinais em ambas as direcções. Em caso de perturbações no intestino, como uma disbiose ou uma inflamação, os sinais são transmitidos ao cérebro através do nervo vago, o que pode levar a perturbações do humor, depressão ou mesmo a um défice cognitivo.
O Dr. Michael Gershon, o fundador do termo "segundo cérebro", explica:
"O intestino tem uma autonomia notável e uma enorme quantidade de recursos neuronais. O sistema nervoso entérico tem o potencial de influenciar as nossas emoções e moldar a saúde do cérebro".
O intestino e o coração estão ligados através da regulação sistémica da inflamação. Uma barreira intestinal perturbada, também conhecida como "leaky gut", permite a entrada de bactérias e toxinas nocivas na corrente sanguínea. Estas toxinas podem desencadear uma resposta inflamatória em todo o corpo, o que também afecta a saúde do coração.
Certas bactérias intestinais produzem trimetilamina (TMA), que é convertida em N-óxido de trimetilamina (TMAO) no fígado. Estudos mostram que o aumento dos níveis de TMAO está associado a um maior risco de ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais e aterosclerose.
O Dr. Stanley Hazen, um dos principais investigadores neste domínio, explica:
"O microbioma tem uma influência profunda no sistema cardiovascular e a modulação direcionada das bactérias intestinais pode ser uma forma promissora de prevenir as doenças cardiovasculares".
A ligação entre o intestino e o cérebro é mediada pelo sistema nervoso (especialmente o nervo vago), o sistema endócrino e o sistema imunitário. A disbiose pode perturbar o equilíbrio dos neurotransmissores produzidos no intestino. Isto pode aumentar o risco de perturbações neurológicas e psiquiátricas.
O Dr. John Cryan, um dos principais especialistas no domínio da investigação do microbioma, sublinha que:
"O microbioma tem uma influência profunda no nosso cérebro e na nossa psique. A investigação sobre o eixo intestino-cérebro mostra-nos que podemos potencialmente influenciar a saúde mental através da manipulação do microbioma."
O coração e o cérebro comunicam através do sistema nervoso autónomo. O stress e as emoções desempenham um papel crucial na saúde do coração. O stress crónico ativa o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (eixo HPA) e aumenta a libertação de cortisol, a chamada hormona do stress.
O Dr. Dean Ornish, pioneiro na investigação sobre a saúde do coração, explica:
"O amor e a intimidade são remédios poderosos. O que realmente alimenta o coração e o cérebro não é apenas medicação ou cirurgia, mas uma vida de ligação - aos outros, a si próprio e a uma realidade superior."
A investigação sobre o eixo intestino-coração-cérebro mostra como é crucial um estilo de vida saudável para promover as interações entre estes três sistemas de órgãos.
A dieta mediterrânica, rica em legumes, fruta, frutos secos, produtos integrais, gorduras saudáveis (como o azeite) e peixe, provou ser muito benéfica para o microbioma. Promove a proliferação de bactérias benéficas que produzem ácidos gordos de cadeia curta, que têm um efeito anti-inflamatório e apoiam uma barreira intestinal saudável.
A Dra. Elisabeth Blackburn, Prémio Nobel pela sua investigação sobre os telómeros, afirma
"O que mantém as nossas células saudáveis não é apenas uma dieta saudável e exercício físico, mas também a redução do stress. Compreender o microbioma e a sua ligação ao cérebro e ao coração pode ser o futuro da medicina preventiva".
O eixo intestino-coração-cérebro ilustra como os sistemas de órgãos estão intimamente ligados e como se influenciam mutuamente. Um estilo de vida saudável que promova a saúde intestinal pode reduzir significativamente o risco de doenças cardiovasculares e neurológicas.
A ciência demonstrou-nos que podemos promover a nossa saúde física e mental através de uma alimentação consciente, da prática de exercício físico, da redução do stress e do cuidado com o nosso microbioma. Esta abordagem holística contribui não só para um corpo mais saudável, mas também para uma mente mais equilibrada e uma vida mais feliz.