1. o coração como centro espiritual e porta de entrada para a ligação divina
Em muitas tradições espirituais, o coração é considerado como o centro mais íntimo do ser humano, onde se experimenta uma ligação direta com o divino. É o lugar onde a revelação divina, a sabedoria e o amor são acessíveis. Este aspeto é intensamente realçado no sufismo, no bhakti yoga e no misticismo cristão:
Sufismo: O coração é visto como um espelho que reflecte a luz divina. É o lugar dos segredos divinos que a mente, por si só, não consegue apreender. Os sufistas acreditam que o coração tem a capacidade de reconhecer a realidade divina quando está purificado do ego e dos apegos mundanos. A prática do dhikr (recordação constante de Deus) é utilizada para orientar o coração para o divino.
Bhakti yoga: No bhakti yoga, o coração é a sede do amor e da devoção. Um coração puro conduz a uma ligação direta e pessoal com Deus. Os bhaktis (praticantes) alimentam o coração através de smarana (recordação de Deus), que promove uma profunda ligação emocional e devoção. O amor divino é reconhecido no coração como o objetivo final através do qual se pode alcançar a unidade com o Divino.
Mística cristã: Aqui, o coração é visto como a morada de Deus. Místicos como Teresa de Ávila e São João da Cruz descrevem o coração como o lugar onde Deus actua e onde pode ter lugar a mais profunda união com o homem. Num estado de purificação do coração através da oração e da contemplação, as pessoas experimentam diretamente a luz e o amor divinos.
2. o coração como centro de purificação e transformação interior
Uma tarefa central nestas tradições é a purificação do coração, de modo a torná-lo acessível às influências divinas e ao verdadeiro auto-conhecimento. Esta purificação é um processo no qual o coração é libertado de influências negativas como o egoísmo e os apegos:
Sufismo: O processo de tazkiyah (purificação) remove o "pó" dos desejos mundanos do espelho do coração para que este possa refletir a verdade divina. Este processo de purificação é crucial para receber a sabedoria e a orientação divinas.
Bhakti yoga: A prática de chitta shuddhi (purificação da consciência) liberta o coração das emoções negativas e do falso ego para sentir o amor divino. Quanto mais puro for o coração, mais profunda será a devoção e mais próxima será a ligação com Deus.
Mística cristã: Através da oração, da contemplação e da penitência, o coração é purificado e torna-se recetivo à graça de Deus. A purificação do coração liberta as pessoas do pecado e do egoísmo, para que o amor e a sabedoria divinos possam atuar através do coração.
3. o coração na alquimia como símbolo de transformação interior
No simbolismo alquímico, o coração é entendido como um lugar de transformação e de iluminação. Actua como um fogo interior que purifica as pessoas e as conduz a um nível superior de consciência:
Sol interior: O coração simboliza o sol interior, o centro de iluminação espiritual que ilumina e guia todo o ser. A alquimia considera o coração como o centro de transformação, onde os opostos, como o espírito e a matéria, se fundem.
Casamento alquímico: A união dos opostos, frequentemente designada por "casamento alquímico", tem lugar no coração. É o lugar onde o eu inferior é transformado num eu superior. A alma e o espírito fundem-se num estado novo e harmonioso que impulsiona a evolução espiritual do ser humano.
Pedra Filosofal: A "pedra filosofal", o objetivo final do trabalho alquímico, encontra-se simbolicamente no coração. Um coração purificado e iluminado é visto como a fonte da sabedoria eterna e da imortalidade espiritual.
4) Nos conceitos filosóficos e éticos, o coração é mais do que um simples órgão físico; é o centro da clareza moral e da intuição:
Misticismo cristão e islâmico: O coração é visto como um órgão moral que ajuda as pessoas a distinguir entre o bem e o mal. Ibn Arabi descreve o coração como o trono de Deus, onde residem a sabedoria e a verdade divinas. Ibn Arabi descreve o coração como o trono de Deus, onde residem a sabedoria e a verdade divinas. Um coração puro conduz as pessoas à clareza ética e ajuda-as a levar uma vida virtuosa.
Rudolf Steiner: Nos ensinamentos antroposóficos de Steiner, o coração desempenha um papel como órgão moral e centro da intuição do coração. O equilíbrio entre o pensar, o sentir e o querer, que é regulado pela intuição do coração, permite às pessoas viver uma vida harmoniosa e ética. O princípio de Cristo como força cósmica do amor ajuda as pessoas a encontrar o equilíbrio moral entre os extremos (como Lúcifer e Ahriman).
5 O coração como fonte de amor e de plenitude
O amor como força transformadora é descrito como uma função central do coração em todas as tradições e abordagens:
Sufismo e Bhakti Yoga: O amor a Deus é o poder mais elevado que purifica o coração e conduz o homem à união com o divino. Este amor dissolve o ego e harmoniza as pessoas com a realidade divina.
Cristianismo: O amor a Deus e aos outros seres humanos é o mandamento central. A mística cristã descreve o amor divino como a forma mais elevada de união, que é vivida no coração e conduz as pessoas à plenitude.
Psicologia moderna: No trabalho de Louise Hay e outros, o coração é visto como a fonte do amor-próprio e da aceitação. O amor-próprio é a chave para a cura e para uma vida emocional saudável.
Resumido
O coração une diferentes dimensões do ser humano e reflecte os aspectos mais profundos da espiritualidade, da psicologia e do simbolismo:
Centro espiritual: Um lugar de encontro divino onde o amor, a sabedoria e a unidade podem ser experimentados.
Purificação e transformação: O coração deve ser purificado para poder revelar a sua verdadeira natureza e aceder à orientação divina.
Símbolo da alquimia: um lugar de transformação espiritual e de iluminação onde os opostos se unem.
Saúde emocional e mental: centro de inteligência emocional e auto-cura através da coerência e da prática meditativa.
Órgão moral e espiritual: Fonte de clareza ética e de intuição que conduz as pessoas à realização moral e espiritual.
Lugar de amor e de plenitude: Fonte de amor divino e humano que leva o indivíduo à plenitude e à harmonia interior.
O coração simboliza, portanto, uma interface entre o humano e o divino e é visto como um lugar onde tanto a verdade mais íntima como o maior amor e sabedoria podem ser experimentados. Em todas as tradições e perspectivas modernas, o coração é a chave para o auto-conhecimento, a transformação e uma ligação profunda com a realidade interior e exterior.